Com a conclusão do período de lockdown na Itália, as fronteiras começam a abrir, primeiro entre as regiões depois a abertura aos turistas vindos de outros países europeus. Lentamente as proibições diminuem, as pessoas retomam seus contatos, começam a frequentar as missas nas paróquias, encontro em restaurantes etc.
Pós-pandemia a ser construída
Mas o período da pós-pandemia está apenas começando, a crise econômica que a Covid-19 causou já é evidente para muita gente, e não sabemos quais serão as consequências para o nosso futuro e para o mundo do trabalho. O Papa Francisco já falou várias vezes sobre a necessidade de repensar a vida, a economia, as dinâmicas nas quais se fundamentam as nossas sociedades. No último domingo de Pentecostes (31/05), durante a oração do Regina Coeli enfatizou que “precisamos tanto da luz e do poder do Espírito Santo! A Igreja precisa dela”, disse ele, “para poder caminhar unida e corajosamente, dando testemunho do Evangelho”. E toda a família humana precisa dela, para sair desta crise mais unida e já não dividida”. Depois observou: “Sabeis que de uma crise como esta não se sai da mesma maneira, como antes: ou se sai melhor ou pior. Que tenhamos a coragem de mudar, de ser melhores, de ser melhores do que antes e de ser capazes de construir positivamente a pós-crise da pandemia”.
A oração do Papa a Maria para a saída da crise
Na noite dde 30 de maio, mês dedicado a Maria, o Papa rezou o Terço em conexão com muitos santuários marianos na Gruta de Lourdes, nos Jardins do Vaticano. Ele rezou por todos os doentes, pelos mortos, pelas suas famílias, por todos aqueles que se dedicaram ao cuidado e assistência dos infectados. Com Francesco havia representantes das várias categorias envolvidas de alguma forma na epidemia: profissionais da saúde, alguém que perdeu um familiar, um sacerdote, uma religiosa, um farmacêutico e uma jornalista, um voluntário da Proteção civil e um jovem casal com um bebê nascido neste período. Também estava com o grupo um doente da Covid-19 que ficou curado, representando todos os doentes curados no mundo.
Um doente curado: senti as forças da oração
Seu nome é Giovanni De Cerce, romano, pai de 4 filhos, é catequista e membro do movimento Caminho Neocatecumenal e trabalha em uma empresa de informática. Ele nos fala da emoção na noite de 30 de maio durante a oração nos jardins vaticanos e sobre a sua experiência da doença e da cura.
“Digamos que a emoção começou quando recebi o telefonema para participar e me disseram que eu tinha sido chamado para representar os curados de todo o mundo. Foi uma emoção forte mas antes de tudo foi uma experiência, porque considerei esta doença como um terceiro evento, digamos, porque tive um melanoma em 2000, depois de um ataque cardíaco em 2014 e agora esta doença em 2020”.
“Considerei tudo isso na preparação para o evento do sábado passado perguntando-me por que seria eu entre tantos doentes que estão curados, e a primeira coisa que senti foi um sentimento cheio de gratidão, porque ver o Santo Padre era como se Deus tivesse querido confiar uma nova tarefa, uma nova maneira de ver a vida para todos nós que ficamos curados. Talvez também, porque hoje há necessidade de pessoas que comecem a ver a vida de uma nova maneira. Diante do Papa me senti como um representante, como se eu fosse a ponta de um fio que estava sendo puxado, porém só a ponta, porque debaixo havia muitíssimas pessoas que foram curadas, que tinham tido essa experiência, e a emoção foi muito grande. Rezei muito para Nossa Senhora, pedi a Maria que intercedesse junto de seu Filho e me deixasse ainda aqui, e consegui isso, mas cheguei a temer que deixaria esta vida, a minha família”.
O senhor pode nos contar brevemente como foi a sua experiência da doença?
Giovanni De Cerce: Cheguei no hospital de maneira traumática, pois tive uma parada respiratória e minha filha que estava em casa comigo me fez uma massagem cardíaca imediatamente, ela me salvou naquele momento, então fui para o hospital e fiquei muito preocupado porque todos disseram que essa doença se torna mais perigosa com problemas de saúde precedentes, então entrei na ambulância pensando que eu poderia não voltar, me despedi da minha esposa, dos meus 4 filhos. Estava no Hospital Spallanzani de Roma. Quando cheguei logo iniciaram um complexo tratamento, ninguém disse nada, mas vi muita profissionalidade, até mesmo muito amor por parte dos profissionais em fazer o trabalho. Neste ponto comecei a perguntar a Deus o que Ele queria fazer comigo, eu estava muito confuso, mas também estava pronto no sentido que disse ao Senhor: você quem sabe. Soube que muita gente estava rezando por mim e então comecei a sentir o poder da oração. Eu fiz o que pude porque naturalmente os pensamentos eram muitos, eram também de medo, mas nunca entrei em desânimo ou depressão. Mas o medo sim, e a dúvida também: se eu sairia daquele hospital. E ali acendeu uma luz que li como as orações de tantos que rezavam por mim: as de toda a minha comunidade, das muitas pessoas que conhecia, sou também catequista, as orações de minha mãe que pediu para rezar por mim em alguns mosteiros que ela conhece no mundo, as orações de minha esposa que se levantava todas as noites para rezar e eu sentia a força da oração, uma força enorme. Isso me levou até a oração com o Papa Francisco para rezar a Ave Maria, senti que isso era algo grandioso. Quando descobri que tantos santuários no mundo estariam conectados, tive o mesmo pensamento, era uma oração universal para todos aqueles como eu, pessoas comuns, para os quais Maria tem um olhar cheio de amor.
Agora o senhor está curado, mas voltando à sua experiência no hospital, houve algum momento em particular que recorda?
Giovanni De Cerce: Lembro que um momento particularmente forte foi na Sexta-feira Santa, porque passei o Tríduo Pascal no hospital. E na noite daquela sexta-feira tive dores muito fortes, estava imobilizado, mas o primeiro teste negativo que tive foi no dia da Páscoa. Foi um sinal muito grande para mim: Tinha pedido a Jesus, na Sexta-feira Santa para experimentar um pouco da Sua Paixão e eu a tinha tido, mas a maravilha é que no dia da Páscoa eu tive a ressurreição. E entendi que o Senhor me dizia: vamos agora para a Galileia, assim como quando o Senhor se levanta novamente marca um encontro conosco na Galileia. Para mim queria dizer que o Senhor me chamava para uma nova vida.
O Papa Francisco disse que ninguém sai igual desta crise. Ou melhor ou pior, o senhor já está passando por isso, na sua opinião o mundo terá coragem de mudar para melhor?
Giovanni De Cerce: Acho que sim, depois de todos os momentos de crise da história, vêm a ressurreição, são como momentos de reinício da nossa vida, e isto porque é Deus que guia a história e a história sempre demonstrou que Deus ama o homem. Creio que este será um momento difícil, não sabemos quanto tempo irá durar, quão profunda será a crise, mas estou confiante, toda a crise é sempre um momento para escolhermos, para discernirmos, para entendermos que a vida está indo de uma nova maneira e estou confiante também no homem, mesmo com as dificuldades que existem, mesmo que se vemos que ele se afastou de Deus, mas Deus não se afastou do homem e isso me dá muita confiança.
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