As escolhas, quando feitas com lucidez, podem promover a qualificação da vida pessoal e o desenvolvimento integral da sociedade. A liberdade de escolha é um direito, mas é necessário conhecer as consequências de cada decisão. Por isso mesmo, não é aconselhável que as escolhas sejam feitas simplesmente por comodidades e conveniências. Nem devem ser determinadas por dinâmicas psíquicas e afetivas de indivíduos, pois causam impactos nos contextos sociopolíticos e culturais. Assim, somente a lucidez nas escolhas, fruto do indispensável exercício de discernimento, é capaz de gerar o equilíbrio necessário às decisões voltadas para o bem comum.
E todo processo de discernimento é complexo. Revela fragilidades individuais, independentemente das condições sociais, acadêmicas e econômicas. Sendo assim, o segredo do bom discernimento reside na competência humana e espiritual para articular conceitos, informações e enxergar, com maior nitidez, a realidade. Mas, em diversas situações, as pessoas não estão capacitadas para bem discernir. Ainda mais preocupante é quando indivíduos com grandes responsabilidades se mostram despreparados. Gestores que têm o dever de representar o povo fazem escolhas inadequadas, causando impactos devastadores na sociedade.
Por isso mesmo, é preciso critério para escolher esses gestores, especificamente no processo eleitoral. Muitos submetem seus nomes ao sufrágio das urnas movidos exclusivamente pela vaidade. E pior, é cada vez mais comum a presença na política de pessoas que buscam ocupar cargos apenas para atender a interesses particulares, ou satisfazer o desejo de ter o “poder nas mãos”. Afinal, espera-se do gestor um governo competente no discernimento e nas escolhas, priorizando a eficácia na solução dos diferentes problemas, sem atrasos e prejuízos. Mas, infelizmente, o que se constata, com frequência, são pessoas que ocupam lugares estratégicos sem a mínima percepção de suas próprias responsabilidades. Ao invés de apresentarem resultados, prevalece um falatório com justificativas intermináveis.
Esse cenário é especialmente preocupante na atualidade, quando as instituições são desafiadas a se remodelarem, adequando-se à realidade contemporânea. E nas instâncias do poder, os que representam o povo, em vez de oferecerem soluções para os muitos problemas, estão mais preocupados com a manutenção de cargos e privilégios. Sequer se dedicam ao necessário exercício da autocrítica, essencial para não se repetir erros. Falta lucidez. Uma patologia que ameaça diferentes instituições, submetidas às desconexões e às idiossincrasias de seus dirigentes.
Urgente é o surgimento de novos líderes, capazes de conduzir processos com desapego e inteligência. Particularmente, essa é uma inquestionável necessidade para o Brasil, que precisa rearticular os rumos da democracia, tão fragilizada pela gestão daqueles que seguiram os caminhos da mesquinhez, em vez de priorizar o bem comum. Nesse sentido, o cidadão brasileiro está desafiado a escolher bem seus representantes nas eleições deste ano. Devem ser buscados gestores e legisladores capazes de perceber a complexa realidade do país.
Entre os muitos desafios a serem enfrentados está, pois, a qualificação da comunidade política. A oportunidade singular para isso é o voto nas urnas. Para não perdê-la, cada pessoa deve escolher seu candidato com lucidez, considerando as propostas que realmente buscam o bem da sociedade. Dos políticos, é esperada a clara compreensão da real importância do povo, a exemplo do que ensina a Doutrina Social da Igreja: o povo não é uma multidão amorfa, uma massa inerte a ser manipulada e instrumentalizada, mas um conjunto de pessoas com o direito de formar a sua própria opinião a respeito da coisa pública, de exprimir a sua sensibilidade política e de fazê-la valer de modo consoante com o bem comum. Não basta aos políticos a ambição para ocupar lugares nos processos de governança. É preciso intuir novos caminhos. O ponto de partida será sempre o cultivo-aprendizagem do discernimento, para garantir a lucidez nas escolhas.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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