O Papa Francisco enviou uma mensagem à cimeira do G20, reunida na Alemanha, pedindo aos responsáveis políticos uma “prioridade absoluta” para os mais pobres e os refugiados. O texto foi divulgado nesta sexta-feira pela de imprensa da Santa Sé.
O G20 (abreviatura para Grupo dos 20) é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. Entre os principais temas em discussão, estão a luta ao terrorismo, o fenômeno migratório e a preservação do meio ambiente.
Na véspera do encontro, em Hamburgo, houve protestos contra a reunião e muita violência entre a polícia alemã e black blocs. Quase 30 manifestantes foram presos e 111 policiais ficaram feridos. O encontro mais esperado foi o dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e Rússia, Vladimir Putin que durou duas horas.
“Há necessidade de dar prioridade absoluta aos pobres, aos refugiados, aos que sofrem, aos deslocados e aos excluídos, sem distinções de nação, raça, religião e cultura, bem como de rejeitar os conflitos armados”, escreveu o Papa na mensagem endereçada à anfitriã do evento, a chanceler alemã Angela Merkel.
Depois de manifestar o seu apreço pelos esforços realizados para garantir a governabilidade e a estabilidade da economia mundial, com atenção especial a um crescimento mundial que seja inclusivo e sustentável, lembra a atenção dirigida aos conflitos em andamento e ao problema mundial das migrações.
Os quatro princípios de ação para a construção de sociedades mais justas, contidas na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium são: o tempo é superior ao espaço; a unidade prevalece sobre o conflito; a realidade é mais importante do que a ideia; e o todo é superior às partes.
Assim o Papa afirma que a gravidade e a complexidade das problemáticas mundiais impedem soluções imediatas, e o drama das migrações (inseparável da pobreza e exacerbado pelas guerras) é uma prova disto. Todavia, é possível colocar em ação processos que sejam capazes de oferecer soluções progressivas e não traumáticas e conduzir, em tempos relativamente breves, a uma livre circulação e a uma estabilidade das pessoas que sejam vantajosas para todos.
Contudo, para Francisco, esta tensão entre espaço e tempo requer um movimento exatamente contrário na consciência dos governantes e poderosos. “Em seus corações e mentes, é necessário dar prioridade absoluta aos pobres, aos refugiados, aos deslocados e aos excluídos, sem distinção de nação, raça, religião ou cultura, e rejeitar os conflitos armados.”
O Papa faz então um premente apelo aos chefes de Estado e de governo do G20 e a toda a comunidade mundial pela trágica situação do Sudão do Sul, nos Grandes Lagos, Chade, Chifre da África e Iêmen, “onde 30 milhões de pessoas não têm alimento e água para sobreviver”.
A história da humanidade, inclusive hoje, nos apresenta um vasto panorama de conflitos atuais ou potenciais. “Todavia, a guerra jamais é a solução”, acrescenta o Pontífice, afirmando se sentir na obrigação de pedir “ao mundo que ponha fim a inúteis massacres”.
Isso só será possível se todas as partes se empenharem em reduzir substancialmente os níveis de conflitualidade, deter a atual corrida armamentista e renunciar a se envolver direta ou indiretamente em conflitos. “É uma trágica contradição e incoerência a aparente unidade em fóruns econômicos e sociais e a persistência de conflitos bélicos”, constata o Papa.
Para Francisco, as trágicas ideologias da primeira metade do século XX foram substituídas por novas ideologias da autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira. Essas ideologias deixam um rastro de exclusão e de descarte, e inclusive de morte. “Peço a Deus que a cúpula de Hamburgo seja iluminada pelo exemplo de líderes europeus e mundiais que privilegiaram o diálogo e a busca de soluções comuns.”
Essas soluções, prossegue o Pontífice, para serem duradouras devem ter uma visão ampla e considerar as repercussões em todos os países, não só nos que compõem o G20. Porque é justamente sobre as nações sem voz e seus habitantes que recaem os efeitos das crises econômicas. Para Francisco, é importante sempre fazer referência às Nações Unidas, às agências associadas e respeitar os tratados internacionais.
O Papa conclui invocando a bênção de Deus sobre o encontro de Hamburgo e sobre todos os esforços da comunidade internacional para ativar uma nova era de desenvolvimento inovadora, interconexa, sustentável, respeitosa do meio ambiente e inclusiva de todos os povos e de todas as pessoas.(Zenit)
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